Não conseguia adormecer. Depois de se revolver na cama durante duas horas, intermináveis, decidiu sair. Vagueou pelas ruas daquela cidade sem nome, num sítio frio e impessoal. Enquanto vagueava, relembrou o dia anterior, a namorada tinha terminado tudo, o pai tinha discutido e o curso não andava. Parou junto à praia. Começou a caminhar cabisbaixo pelo areal, até sentir os pés molhados. Sentou-se na areia molhada e olhou o horizonte que estava mesclado. O sol estava prestes a surgir.
Horas depois o sol, já sobre o horizonte, brilhava com vontade, majestoso, desafiava-o, foi então que sentiu alguém que lhe fazia companhia há já algum tempo. Era uma força que lhe vinha de dentro e o fez ver que o mundo é perfeito em toda a sua mudança e que a vida é uma circunferência com um lado positivo e leve, e um lado negativo e pesado. Essa circunferência era a sua vida e neste momento o lado negativo e pesado estava virado para cima. Compreendeu então que só ele a poderia virar, roda-la quantos graus quisesse e embora só ele o pudesse fazer, podia faze-lo, mantê-la em constante rotação para que o lado positivo estivesse sempre no cimo.
Regressou a casa com vontade de viver.
Évora, Novembro 1990
Esta foi uma história que imaginei. Quando o fiz, idealizei que era eu a conta-la a alguém muito especial, e por incrível que pareça esse alguém estava a adormecer, por isso esta história é para embalar e no dia seguinte quando amanhece é para renascer.
Ofereço-te esta história para que nunca te sintas só porque no fundo todos queremos que todos ouçam a nossa dor.
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