segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

MUDANÇA DE ENDEREÇO!!

Por uma questão de conveniência de navegação na web mudei todos os conteudos neste blog para novo endereço. Mantenho este blog mas os novos posts encontra-los-ão apenas no novo blog:

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

'Quem me dera' - Vinicius de Morais

Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai, quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor.
Ai, quem me dera uma manhã feliz.
Ai, quem me dera uma estação de amor
Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais
Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim
Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim.

Vinícius de Morais

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Praia do teu corpo

O andar descalço perdeu-se na praia do teu corpo
Os gestos desaguaram na foz do teu leito
Os lábios caminharam pelos recantos da tua pele
E a língua entranhou-se nos teus sabores

Na doçura dos toques
Tornaram-se macias as mãos
Antes amargas porque solidão
E as folhas das árvores
Agitadas fizeram manto
Nas cortinas das janelas
E escondem já dos olhares
O que vai dentro das paredes

Aqui se espalham pelo chão
Todas as ternuras amarrotadas
Aqui se inventam as fantasias
E por dentro dos olhares se sente alma no coração

Os silêncios são já tesouros
As palavras já não restam
Porque as histórias são maravilhas
Que lentamente devoram o mundo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ficar aqui...

Ainda não sei que amor é este
Ainda não sentiram as palavras vontade de caminhar pelas linhas
Ainda não senti o coração nos pergaminhos da memória
Ainda não sonhei para além do que o meu olhar alcança
Ainda não sei.
Ainda.

Sei que a seiva do teu amor me corre nas veias
Sei que vens, sei que partes a qualquer instante…
Sei que a tua nua voz se entranha em tudo o que profetiza
Sei.
Sei que os caminhos auguram todos os reencontros
Sei que os dias se perdem absortos dos anseios
Sei. Ainda sei. Talvez.

E quero.
Quero as caminhadas, nem atrás, nem à frente, sim lado a lado
Quero chegar-te para mim, aninhar-me a ti
Quero indagar do teu olhar indelével no toque do meu rosto
Sim, quero.
Quero ser o atalho por onde regressas porque tens pressa de mim
Quero ser as páginas do teu livro
Quero que sejas o meu prefácio e o meu epílogo
Quero ficar e não mais partir
Quero pertencer aqui.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint - Exupèry

"Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa!"

A história que nos torna eternas crianças..

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

'Viver não doi' - Carlos Drummond de Andrade

Nas minhas viagens pelo mundo virtual às vezes encontro algo que me faz sonhar...



Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz…

Texto de Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Perto estão os dias em que o tempo custa a chegar...

Porto Covo
Agosto, 2007

Anda, vem… fica aqui só um pouco comigo. Demora-te apenas o tempo em que me amas de verdade, intensamente, mais a cada dia e quando o deixares de sentir parte, fica perto de quem amares depois de mim. Só te quero amar assim, só quero que me ames assim…

Deixei a serra e os caminhos sinuosos, agora vagueio ao sabor e ao cheiro das ondas do mar aqui tão perto. Permaneço onde quero ficar, os pés enterrados na areia, as ondas desejosas de desaguar mais perto dos corpos que descansam mesmo à beira da espuma que teima em regressar ao mar.
Espero por ti… só espero por ti…
Às vezes espero por ti, não todos os dias. Não. Porque isso seria desesperar o desejo de ter o teu corpo junto da minha pele a cada noite, a cada dia seguinte…
Por isso regresso ao mar todos os dias, sem esperas, sem desesperos, sem angústias, sei que está aqui, para o ver, para me ver, aqui tão perto, tão embrenhado na minha pele. Carrego o cheiro, embrulho-o nos lençóis à noite, transpiro-o nas paredes da casa dos meus regressos.
E depois as pessoas, pensamentos tão complicados, às vezes os sorrisos.
Os olhares anseiam livros inteiros de palavras, sentimentos, sonhos, amores… Gosto de ler nos olhares os silêncios das frases escondidas do mundo à volta.
Há palavras que se querem dizer, há frases que é preciso verbalizar. Há vontades, desejos que teimam permanecer em silêncio, subterfúgios inventados. Há caminhos, trilhos sinuosos que apenas se conseguem fazer, porque os silêncios contem todas as necessárias palavras.

Mas é preciso contar todas as pequenas letras, as mais importantes, ainda que as acções digam tudo, há que exprimir, faz bem à alma, enche o coração de alegrias plenas, é importante dizer, é mais importante escutar, saber, saborear os desejos nos olhares, sentir no mais recôndito da nossa pele, parar, escutar, sentir… o tudo em nós.

Escutar a tua voz, desenhar as palavras, desejar as vontades da pele, pintar os sentimentos nas frases… pensar em ti depois de adormecer e acordar contigo.

‘I like the strong waves’ alguém disse olhando o mar num vislumbrar sobranceiro por cima das tendas e da confusão cada dia mais matinal.
Há um velho senhor que todas as manhãs paira por aqui, que com a sua boina preta faz lembrar quase um pintor do ‘quartier latin’ em Paris. Todos lhe querem tirar fotos indiscretas, um destes dias ou é capa de revista ou parte de um qualquer álbum de gentes, lugares e viagens no MySpace, HI5 ou um desses abrigos virtuais na Web. Acontece, ainda que sejam 5 minutos de fama numa vida que se ganha, que se perde.
Há momentos das nossas vidas que se avizinham partes de um acontecer destinado, que contra a nossa vontade ou desejo se concretizam na mais pura e magoada realidade.
Há momentos assim em que nem todas as bússolas do universo nos ajudariam a escolher o caminho mais feliz…

Vislumbramos as estrelas e imploramos com a alma quase de joelhos que venha a nós uma luz que indique o caminho menos sinuoso em que a alegria se concretize sem contratempos nem traições.

Anseios, desejos, pressas de acontecer momentos, viver amores, concretizar sonhos, acordar antes de adormecer porque os anos afinal passaram tão depressa, tão fugidios das alegrias que não encontramos pelo caminho desencontrado das nossas vontades, tanto que desejamos para nós…

Perto estão os dias em que o tempo custa a chegar. As horas demoram-se, perdem-se nos caminhos e esperam-se mais tarde…ao entardecer.

Os momentos que se despem, correm horas em escassos segundos. O tempo, a hora, o minuto, o segundo, o desejo do momento que és tu demora-se, perdura em tudo que anseia.

Desenho as letras dos quadros que olho calmamente… Ergo sobranceiramente o instante claro, quase transparente do meu olhar despido de alma e os segredos revelam-se no tremer das entranhas de tudo o que vejo e sinto…ficaste depois de te afastares pelas estradas infinitas do desencontro.
Desci a rua lado a lado, quase o mar, o espanto do encanto, a ilha que se quer esconder.

Não te soube dizer, evitei contar-te as palavras indiscretas, não te quis revelar os sonhos, as esperas do amanhã, descansei nas memórias as recordações do momento que se tornou tesouro no coração. Fiz os desejos imaginados nos dias em que acordei antes de adormecer, revelei no teu corpo os gestos da palavra escrita no pensamento feito anseio. E quis mais antes de partires…

Regressei. Chamei os dias de antes para mais perto do presente. E parei. Quis ouvir de perto as memórias no horizonte. Segredei no olhar a alma, o coração, a pele sequiosa de amar.

Sentei-me ali, na pedra milenar onde outros fizeram fortaleza contra o que pensavam ser o inimigo. Sentei-me aqui tão perto das memórias que em mim habitam, tão longe de qualquer outra vida.
Agucei os sentidos nos cheiros, nos sabores sem provar fosse o que fosse. Senti. Senti-me. Senti-te.
Cheguei ao promontório, parei. Avistei o homem solitário contemplando o mar, um banco que já teve tantas companhias, as solidões que por ali passaram. O que pensarão as vidas que por ali param? O mesmo que eu…?

Abriguei-me naquele momento. Ali. Aqui. Tão perto o mar. tão perto senti, senti-te dentro de mim, por dentro de tudo o que vejo na imensidão.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Ornatus Violeta


Capitão Romance

"Nao vou procurar quem espero
se o que eu quero é navegar
pelo tamanho das ondas,conto nao voltar
parto rumo à primavera
que em meu fundo se escondeu
esqueço tudo do que eu sou capaz
hoje o mar sou eu
esperam-me ondas que persistem
nunca param de bater
esperam-me homens que desistem, antes de morrer
por querer mais do que a vida
sou a sombra do que eu sou
e ao fim nao toquei em nada
do que em mim tocou
eu vi,mas nao agarrei
parto rumo à maravilha
rumo à dor que houver pra vir
se eu encontrar uma ilha
paro pra sentir
e dar sentido á viagem
pra sentir que eu sou capaz
se o meu peito diz coragem
volto a partir em paz"

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O meu grande amigo Paulo...

" A ajuda vem sempre de uma mão, mas em 1º lugar de um pensamento, é a dor que nos faz crescer, tenta-se roubar-lhe o negativo e transformar-lo em positivo".

"Oculto do Humanismo

Gostava de saber o que aqui escrevi.
Não é sincero o que digo, agora.
Mas conheço algo que me ajuda, atormenta, EU.
As pessoas nunca estarão fartas de ler ou ouvir isto.
Simplesmente nunca vão conseguir acreditar em quem as rodeia, nelas próprias.
Só saberão aquilo que querem, quando já não o puderem alcançar,.
E no fim não conseguem crer que existe alguém que pode ganhar com a ideia."

"Só consigo erguer os outros

Aquela palavra que vive no preto e branco
que questiona o olhar!
Momento, sorriso,
inevitavelmente nunca poderá conhecer terra firme.
Livremente, trémula responde-te ao apelamento.
Acredito que dói mas tem que se guardar em segredo
Mas por que passos luminosos caminhais vós senhora?
Não vedes que na incerteza se sonha o amanhã, que com vontade acontece, senhora"

Paulo Simões, 1993

O Poema do meu aluno Pedro depois de ler um poema de Pessoa..

Era uma vez um amor
pousado no ramo de uma árvore
onde costumava passar os dias
Sentia-se um amor normal
como todos os amores, honesto
sensível, carinhoso, atencioso
e muito meigo e amigo

Esse amor cantava e sorria
por vezes também se sentia triste
e até chorava, mas tudo acabava
por ficar bem, e voltava a cantar
e a sorrir

Num belo dia de Verão estava o amor
como todos os dias, pousado no seu
habitual ramo de árvore, quando outro amor
pousou no mesmo ramo, da mesma árvore
olharam-se, sorriram um para o outro,
e apaixonaram-se, sem que nada o fizesse
prever sairam os dois voando, voando muito alto
e para muito longe, em direcção ao sul,
onde o clima é propicio à paixão

Desde esse dia, o amor nunca mais
pousou no ramo da árvore
O tempo passava e o ramo da árvore
continuava à espera do amor que durante
tanto tempo nela pousara.
Triste, e sem a companhia de que
tanto gostava, o ramo da árvore
começou a secar.

Chegou o Inverno
e o amor sem voltar a pousar
no ramo da árvore.
O ramo estava seco de tanta tristeza
pois tinha-lhe oferecido a sua resistência
quando os ventos fortes no Inverno sopravam,
abrigo nas noites frias, sombra no Verão
escaldante e beleza na Primavera.
No entanto, o amor não aparecia, parecia esquecido.

Um dia, já sem esperança,
com um olhar muito cansado,
Viu um ponto negro ao fundo
no céu azul, vindo do sul.
- Será o meu amor? perguntou o ramo
da árvore com o coração a bater cada vez
mais forte
Mas a tristeza assolou-o então, ao ver que
afinal era um mensageiro vindo do sul.

O mensageiro pousou no ramo da árvore
e perguntou-lhe:
- Tu é que és o ramo da árvore?
- Sim! respondeu a tremer de emoção
- Trago-te uma mensagem do amor.
O coração do ramo da árvore estremeceu
e o mensageiro disse então:
- O amor que em ti pousava morreu,
mas deixou um último desejo.

Que fiques forte, saudável e resistente
aos dias ventosos, que a folhagem
te cresça, para aqueceres no Inverno
e no Verão ofereceres a tua fresca
sombra, e na Primavera que sejas
o ramo de árvore mais bonito, se
assim o fizeres outro amor em ti
pousará e não mais se esquecerá
quando em direcção ao sul voar.

O ramo da árvore
deixou cair uma lágrima, inspirou a brisa
e murmurou:
-Não se esqueceu.

"Dedico este meu poema à minha querida e inesquecível professora de Inglês do 6º ano

1/8/2000, Pedro"

É bom ter quem nos recorda com carinho.

Anamel

Memórias de uma minha aluna, nos anos idos de 2000..

Aqui estou eu
que ideia me deu
mesmo sendo avó
eu queria estudar

Adiante levei esse meu desejo
e hoje terminado
a quem me ensinou
eu digo obrigado

Com a professora Rita
sempre sorrindo
e cara engraçada
matemática aprendi
e não custou nada

Sorte lhe desejo
para o seu futuro
Mamã vai ser
terá para sempre
um amor puro

Professora Helena
deu o português
eu até gostei
mas a tal história
a todos baralhou
coceira me deu
que sono me fez

Mas com o seu esforço
mais um pouco aprendi
hoje estou mais rica
graças a si

E não me esqueci
do inglês
professora Zélia
que esforço fez

Bem me explicava
e exemplos me dava
mas na minha cabeça
pouco ou nada ficava

E para não esquecer
a partir de agora
os meus colegas
vou enumerar

O menino Pedro
aqui veio parar
vindo de outra escola
é um bom 'malandro'
mas é bom rapaz
e está sempre a brincar

Pelo caminho
colegas ficaram
mas têm também
o meu carinho

A menina Idália
muito concentrada
tinha certas vezes
não dizia nada
mas se se ria
ninguém a calava

A menina Lucia
mui dela gostei
uma cara simpática
que eu adorei

E a menina Fátima
os seus estudos
quer continuar
e atrás dela
me quer levar

A menina Ana
quis ficar na frente
porque não via
pouco falava
mas algo aprendia

E a Natalina
sempre se queixando
de que nada sabia
mas foi-se esforçando
e as boas notas
foi alcançando

A D. Joaquina
Senhora,
duma certa idade
já depois de avó
assim como eu
pegou a sacola
regressou à escola
voltou a menina

No meu coração
a todos guardei
e os bons momentos
hoje e sempre
recordarei.

Fernanda, uma antiga aluna minha.

O poema do Xavier.. há muitos anos atrás..

Num pomar
te pu-
de saber
Tronco nu
de mulher
P´la seiva
Te pude provar
Se que deseja

Ninguém soube
eu sei
Quanto sob
a maciei-
ra fomos
Como eram
e souberam
Os teus pomos

Nem sábios
Sabem os lábios
Desse (doce) gosto
Como das tuas
As duas
Maçãs do rosto
Sabem bem
Não sabe ninguém

Nem saberão
como depois
sob a copa
em cópu-
la depois
Quão
uno outro
soube o teu corpo

Quem sabe
onde cabe
tanto amor
quanto acho
no cacho
dos teus seios
tão cheios
de sabor.

Évora, 14 de Novembro de 1993

Do meu querido Xavier, nos tempos da Universidade de Évora, um verdadeiro artista.

sábado, 19 de maio de 2007

domingo, 6 de maio de 2007

Viagem

Por estrada, sinuosa,
visitei a memória,
contemplei o rio,
enamorei-me da serra,
que me ofereceu
a imagem serena
do verde abundante.
Escutei o silêncio
e já com saudade
foram outros os caminhos,
diferentes as paisagens,
que me conduziram
até ao mar,
meu berço
e meu mundo,
ausente dos dias,
constante nas emoções:
Ali estava, imenso,
quieto, inofensivo.
ondulante e belo.
Por momentos
ignorei a mulher,
ansiosa, triste
e fui a criança,
traquina, feliz,
que sonhava
morar numa concha,
adormecer
em cama de espuma,
vestida e bordada
de corais e mar,
instantes mágicos
que esta viagem
me fez recordar.

Beja, 14/05/2002

Autora: Mª Fernanda Argel (mãe)

As cores do Alentejo

Dispersam-se oliveiras
nas margens das searas;
giestas em flor
vestem os caminhos;
despontam girassóis
é verde a distância;
desabrocham rosas
abrem açucenas;
florescem cardos
colheita do pastor;
seca-se o poejo
guarda-se o aroma;
regressam rebanhos
agita-se a charneca;
flautas e chocalhos
quebram o silêncio;
só a planície
permanece triste
porque as papoilas,
com os malmequeres,
já não se encontram
nos verdes trigais.

Beja, 2002

Autora: Mª Fernanda Argel (mãe)

Universo

Pertencem-me os jardins
quando os visito;
são minhas as flores
quando as contemplo;
são meus os caminhos
onde me sinto livre;
é meu o luar
quando protege as noites
e ameniza a solidão;
é meu o amanhecer
quando, em silêncio,
vejo o Sol nascer;
sou dona dos rios
quando estou só
nas suas margens;
desejo, também,
que sejam meus
os afectos e os amigos
para um dia escrever,
serenamente,
o último poema.

Beja, 29/04/2002

Autora: Mª Fernanda Argel (mãe)

As cores da memória

Gosto da chuva
quando,
suavemente,
vai regando a terra,
nos oferece o verde
salpicado
de flores e frutos,
nos lava o rosto,
escondendo a lágrima,
teimosa,
provocada
pela nostalgia
de outro tempo
guardado e contido
no calendário
de tantas memórias
em que eu,
de forma inocente,
desejava a tempestade
porque me ensinaram
a acreditar
que as nuvens partiam
mas no céu deixavam,
para sempre,
o meu Arco Íris.

Beja, 11/1/2001

Autora: Mª Fernanda Argel (mãe)

Contemplação

Ofereço ao cansaço
a pausa merecida
e do meu espaço
observo a vida.


Aves diligentes
cruzam o azul
do céu infinito
e entre trinados
vão seguindo o Sol
para além dos montes.

Regressam depois
sem pressa, felizes
e em harmonia
procuram,
na copa das árvores,
o tecto
que lhes guarde o sono.

E deste silêncio,
de quietude e paz,
guardo a certeza
que viver é simples
quando a liberdade
nos deixa sonhar.

Beja, 12/11/99

Autora: Mª Fernanda Argel (mãe)

A lágrima e o orvalho

Se a lágrima fosse
como o orvalho
que a terra recebe
e a flor agradece,
o choro contido,
o soluço abafado
e o medo do pranto
seriam o grito
pela liberdade
de mostrar a dor
e o preconceito,
assim ignorado,
deixaria ver
como tantas vidas
são um desencanto.

25/10/98

Autora: Mª Fernanda Argel (mãe)